Geriatra Alerta sobre o Crescimento Exponencial de Casos de HIV entre Idosos
O número de infectados teria quadruplicado nesta faixa etária entre 2011 e 2021 no Brasil
Agência Brasil – O número de idosos diagnosticados com HIV quadruplicou nos últimos dez anos. De que números estamos falando?
Marco Túlio Cintra – Os números são ainda mais alarmantes. Observa-se um aumento contínuo, que os índices de testagem não explicam plenamente. Isso nos conduz a uma questão crucial: a surpresa das pessoas diante da quantidade de casos, pois, no imaginário coletivo, a vida sexual do idoso é considerada como algo extinto. Trata-se, portanto, de um incremento progressivo em uma faixa etária que desperta grande preocupação.
Agência Brasil – Esse aumento tem relação com fatores comportamentais também?
Cintra – No caso dos idosos, normalmente, há uma multiplicidade de causas. Os profissionais de saúde, com frequência, não consideram a possibilidade do diagnóstico de HIV em pacientes dessa faixa etária, de modo que a infecção é descoberta apenas quando a doença já se manifesta em sua forma mais avançada, com sintomas de AIDS. Outro ponto crucial que não recebe a devida atenção é a ausência de campanhas de prevenção voltadas para o público idoso. Consequentemente, a informação não alcança essa população.
Agência Brasil – O HIV representa um risco maior para a pessoa idosa?
Cintra – Quando falamos de idosos, não se pode generalizar, é claro, mas existe, sim, um perfil de maior comorbidade. Há uma alteração no sistema imunológico que acompanha o envelhecimento. Muitos idosos fazem uso de múltiplos medicamentos, o que agrava a situação quando o HIV entra em cena. O vírus pode desencadear interações medicamentosas, em que um fármaco interfere na ação do outro, além de apresentar desafios adicionais no tratamento, visto que essa população frequentemente já enfrenta outros problemas de saúde.
Agência Brasil – Existe muita resistência, especialmente entre os homens, quanto ao uso de preservativo nesta faixa etária?
Cintra – Entre os idosos, a preocupação com o uso do preservativo é consideravelmente menor. Muitos não percebem que estão se expondo ao risco. Frequentemente, as campanhas de prevenção são direcionadas a grupos específicos, e não com base nos comportamentos de risco. No entanto, o comportamento de risco pode se manifestar em qualquer faixa etária, incluindo entre os idosos que permanecem sexualmente ativos.