Alterações climáticas impactam as populações de peixes de água doce, afirma estudo
Pesquisadores investigaram como o incremento da temperatura pode influenciar a distribuição desses organismos, à medida que procuram habitats termicamente adequados
Cientistas da Universidade de Bristol, localizada na Inglaterra, revelaram que as populações de peixes de água doce que habitam regiões mais frias, como as próximas aos polos terrestres, estão apresentando uma taxa de evolução acelerada em comparação àquelas que vivem em águas mais cálidas, como nas regiões equatoriais. A pesquisa foi publicada na segunda-feira (9) na prestigiada revista científica PNAS.
O estudo demonstrou que espécies migratórias de grande porte, como o salmão do Atlântico, estão prosperando à medida que o aumento das temperaturas promove a abertura de novos habitats nas áreas de fronteira polar. Este trabalho sugere que as mudanças climáticas estão, de fato, conduzindo a alterações na distribuição das espécies de água doce, com os animais buscando locais termicamente apropriados para a sobrevivência.
“Uma resposta biológica geral ao aquecimento climático em ambientes marinhos e terrestres é que as populações estão se expandindo no lado polar das áreas de distribuição das espécies, à medida que novos habitats são gerados, enquanto, simultaneamente, declinam no lado equatorial das áreas de distribuição devido ao aumento das condições ambientais adversas”, esclarece Martin Genner, coautor do estudo, em comunicado oficial à imprensa.
Para a realização da análise, os pesquisadores empregaram um vasto conjunto de dados compostos por mais de 10 mil séries temporais, envolvendo mais de 600 espécies. A equipe correlacionou essas informações, coletadas entre os anos de 1958 e 2019, com dados de temperatura da mesma janela temporal. Em todas as localidades analisadas, verificou-se um aumento médio de 0,21°C por década nas águas.
Os pesquisadores constataram que as tendências populacionais observadas estão em conformidade com os padrões de aquecimento climático previstos, particularmente em espécies de maiores dimensões corpóreas, níveis tróficos elevados, comportamentos migratórios rio-mar e distribuições geográficas mais amplas.
Espécies que seguem essa tendência incluem a truta marrom, bem como peixes de água doce amplamente reconhecidos por muitos pescadores, como a perca-europeia e o lúcio do norte. Adicionalmente, respostas de abundância positivas ao aquecimento foram mais prováveis em altitudes elevadas, onde as condições tendem a ser mais amenas, conforme destacam os achados do estudo.
“Essas descobertas sugerem que o aquecimento climático futuro, conforme projetado, provavelmente resultará em mudanças generalizadas na estrutura das comunidades ribeirinhas, com declínios na abundância nas bordas periféricas das distribuições das espécies”, esclarece Genner.
O próximo passo da equipe é aprofundar o entendimento sobre a influência das mudanças climáticas no tamanho das populações de peixes de água doce em relação a outros fatores estressantes, como poluição, alterações nos habitats e a pressão da pesca.
“Nossa pesquisa demonstrou como o aquecimento das águas impacta os peixes de água doce dos rios, ecossistemas que são notoriamente biodiversos e culturalmente significativos em todo o mundo”, comenta Genner. “Esperamos que iluminar como as mudanças climáticas podem afetar os peixes de água doce contribua para ações concretas que assegurem sua conservação e uso sustentável”, conclui.