Diversas locadoras no Brasil estão abandonando o investimento em veículos elétricos.
A Movida, uma das pioneiras no uso de frota elétrica, adquiriu, desde 2021, aproximadamente 600 modelos Nissan Leaf, Renault Zoe, Fiat 500e e BMW i3. No entanto, em menos de dois anos, grande parte desses veículos ficou ociosa devido à baixa demanda, sendo posteriormente colocada à venda.
Fontes do setor indicam que alguns desses carros permaneceram até seis meses sem compradores, e muitos foram vendidos com descontos de até 40% em relação à tabela Fipe. O grupo também suspendeu a compra de grande parte de um lote de 250 BYD Tan, inicialmente previsto para 2022. A Movida não se manifestou sobre o assunto.
No exterior, a situação é ainda mais crítica. A Hertz, uma das maiores locadoras dos Estados Unidos, cancelou a compra de 100 mil veículos da Tesla devido à rápida desvalorização dos seminovos.
Enilson Sales, presidente da Fenauto, associação que representa revendedores de veículos usados, ressalta que, apesar da depreciação, as vendas de veículos eletrificados – elétricos e híbridos – aumentaram 90% de janeiro a julho, totalizando 33 mil unidades.
Dessas, 83% têm até três anos de uso. As vendas de veículos a combustão, por sua vez, cresceram 9% em relação a 2023, com 8,8 milhões de unidades vendidas.
Sales observa que a comparação é “injusta”, já que os eletrificados estão em fase de expansão acelerada. Segundo ele, ainda é prematuro tirar conclusões mais definitivas sobre esse segmento, que permanece como um nicho de mercado.
Após rodar 54 mil km em dois anos e meio com um Peugeot e-208, adquirido por R$ 249 mil, o empresário paulista Maurício de Barros decidiu vendê-lo. Anunciado em plataformas especializadas, o veículo não recebeu propostas em quatro meses.
Em julho, Barros entregou o carro a uma concessionária por R$ 100 mil como parte de uma troca por outro elétrico. “Foi uma paulada”, afirma.
Contudo, Barros reconhece que pagou o preço por ser um dos primeiros a adquirir um carro totalmente elétrico, quando as opções eram escassas e os preços elevados.
Seu alento foi a compra de um BYD Yuan Plus novo, com mais tecnologia e 480 km de autonomia, superando os 320 km do e-208. O modelo custou R$ 209 mil, com um desconto de R$ 30 mil concedido pela marca.
As marcas chinesas BYD e GWM, que movimentaram o mercado com veículos elétricos e híbridos importados, planejam iniciar a produção local no próximo ano, inicialmente montando kits trazidos da China.
Atentas à desvalorização dos concorrentes, ambas implementaram estratégias de recompra de seminovos por valores próximos aos da tabela Fipe.