Dólar alcança R$ 6,20: compreenda os fatores que impulsionam a escalada da moeda
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Dólar alcança R$ 6,20: compreenda os fatores que impulsionam a escalada da moeda

A moeda estadunidense atingiu o marco histórico de R$ 6 no dia 29 de novembro e mantém uma trajetória ascendente, renovando sucessivos recordes nas sessões subsequentes

A disparada do dólar tem sido impulsionada pelo ceticismo do mercado quanto à eficácia do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo em mitigar o desequilíbrio das contas públicas, somado à hesitação sobre a capacidade de implementação dessas medidas.

Nesta terça-feira (17), a cotação da moeda norte-americana atingiu o patamar de R$ 6,20, impulsionada pela publicação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que sinalizou um agravamento nas expectativas inflacionárias, além de um incremento na atividade econômica, em dissonância com a política monetária contracionista vigente. Contudo, mesmo antes desse documento, o pessimismo já se fazia presente nas semanas anteriores e se intensificou na véspera.

Desde que ultrapassou a marca de R$ 6 em 29 de novembro, a divisa vem registrando novos recordes consecutivos, refletindo a fragilidade do cenário macroeconômico nacional e o aumento da busca por ativos de refúgio.

Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, atribui a aparente volatilidade do mercado à carência de credibilidade nas ações fiscais do governo federal. Segundo ele, a percepção de insegurança tem desencadeado um movimento de fuga para ativos mais estáveis, como o dólar e o ouro.

“Trata-se de uma questão de preservação de capital. O mercado não enxerga viabilidade no pacote fiscal apresentado, especialmente em uma dinâmica que privilegia o aumento de arrecadação sem estratégias claras para reduzir despesas. Quando há desconfiança, os investidores tendem a buscar refúgio em ativos considerados seguros, como moedas fortes e metais preciosos”, explica Gusmão.

Para Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, as decisões do Executivo na condução das políticas fiscais culminaram em uma intensificação dos movimentos naturais de alta do mercado, comparável a um “incêndio” que exacerbou as condições já adversas.

“Há uma ausência de alinhamento entre o Executivo e o Legislativo no que tange à formulação e implementação de uma política fiscal coerente e sustentável. Em um cenário ideal, o Banco Central deveria adotar uma postura reativa, em vez de assumir o protagonismo na condução dessas questões”, argumenta Duarte.

O economista projeta um horizonte de dólar valorizado nos próximos dois anos, impulsionado pela eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

“Esse fortalecimento seria uma reação natural, especialmente entre moedas de mercados emergentes, que frequentemente enfrentam desvalorizações frente ao dólar. Contudo, a magnitude da depreciação do real excede substancialmente a de outras divisas”, ressalta.

No acumulado do ano, o real registra uma queda expressiva de 27,53% em relação ao dólar, enquanto outras moedas emergentes também sofrem perdas, embora em menor escala. O peso mexicano, por exemplo, apresenta uma desvalorização de 15,9%.

Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, destaca que, nesse contexto, os leilões de linhas promovidos pelo Banco Central exercem um impacto limitado na estabilização do câmbio, uma vez que introduzem uma liquidez em dólares já antecipada pelo mercado para este período.

Nesta terça-feira, o Banco Central realizou dois novos leilões para conter a valorização da moeda americana, sendo um deles no montante de US$ 2,015 bilhões. No dia anterior, segunda-feira (16), foram leiloados US$ 3 bilhões, com compromisso de recompra, como parte dos esforços para controlar a escalada cambial.

“Esses leilões no final do ano já são previsíveis, pois visam atender à elevada demanda sazonal por remessas ao exterior típica desse período. Nesse contexto, a liquidez introduzida por meio desses pregões é rapidamente absorvida pelo mercado, exercendo impacto apenas no curtíssimo prazo sobre o câmbio”, esclarece.

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