Exposição a Metais Pesados Pode Elevar o Risco Cardiovascular, Afirma Estudo
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Exposição a Metais Pesados Pode Elevar o Risco Cardiovascular, Afirma Estudo

A exposição a metais pesados tem sido associada a câncer, danos neurológicos e complicações reprodutivas. Recentemente, um estudo, publicado em 18 de setembro, amplia essa pesquisa ao indicar que a exposição a metais como cádmio, urânio e cobre também pode estar vinculada a uma das principais causas de mortalidade global: as doenças cardiovasculares.

Tal exposição, oriunda de fontes como o consumo de tabaco, água contaminada, poluição ambiental e certos alimentos ou produtos, é associada ao acúmulo de cálcio nas artérias coronárias, conforme evidenciado pelo estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology.

O acúmulo de cálcio nas artérias coronárias resulta em aterosclerose, caracterizada pelo estreitamento das paredes arteriais e pela redução do fluxo sanguíneo. Obstruções parciais ou totais das artérias podem culminar em eventos como derrames e doenças coronarianas, levando a arritmias, paradas cardíacas ou insuficiência cardíaca.

“Nossas descobertas ressaltam a relevância de considerar a exposição a metais como um fator de risco significativo para a aterosclerose e doenças cardiovasculares”, declara a principal autora do estudo, Katlyn E. McGraw, pesquisadora pós-doutoral em ciências da saúde ambiental na Mailman School of Public Health da Universidade Columbia.

Os contaminantes ambientais têm sido progressivamente reconhecidos como fatores de risco para doenças cardiovasculares. Entretanto, a conexão entre metais e a calcificação das artérias coronárias era, até então, “amplamente desconhecida”, conforme apontam os autores do estudo. Eles postulam que níveis elevados de metais não essenciais na urina — como cádmio, tungstênio e urânio — e metais essenciais — como cobalto, cobre e zinco —, anteriormente associados a doenças cardiovasculares, podem estar correlacionados à calcificação.

 

A Relação Entre Metais Pesados e a Saúde Cardiovascular

A equipe investigou dados de 6.418 adultos, com idades variando de 45 a 84 anos, que participaram do Estudo Multiétnico de Aterosclerose. Entre julho de 2000 e agosto de 2002, os participantes forneceram amostras de urina e tiveram seu nível de cálcio arterial avaliado, não apenas naquele período, mas também em quatro ocasiões subsequentes ao longo de uma década. Todos os participantes estavam isentos de doenças cardiovasculares clínicas e foram recrutados em diversas cidades, incluindo Baltimore, Chicago, Los Angeles, Nova York, St. Paul, Minnesota, e Winston-Salem, Carolina do Norte.

Um escore normal de cálcio nas artérias coronárias é zero, indicando a ausência de calcificação; escores entre um e 99 refletem uma leve evidência de doença coronariana. No início da pesquisa, a média do nível de cálcio nas artérias coronárias era de 6,3.

Os autores observaram que, em comparação aos participantes com menores níveis de cádmio urinário, aqueles com maiores concentrações apresentaram um aumento de 51% na calcificação no início do estudo e 75% ao longo da década.

Altos níveis urinários de tungstênio, urânio e cobalto foram correlacionados a aumentos de 45%, 39% e 47% na calcificação coronária, respectivamente, ao longo do período de acompanhamento. Ademais, para indivíduos com as maiores concentrações de cobre e zinco na urina, observou-se um aumento de 33% e 57% na calcificação em uma década, respectivamente.

Essas constatações se mantiveram consistentes mesmo após o controle por características sociodemográficas, hábitos de vida e fatores de risco cardiovascular, como diabetes, hipertensão e uso de medicamentos antihipertensivos.

O estudo pode proporcionar uma nova perspectiva para cardiologistas, permitindo-lhes abordar uma “nova fronteira” na avaliação e tratamento da saúde cardiovascular dos pacientes, conforme destaca o cardiologista Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar no National Jewish Health em Denver, que não participou da pesquisa.

“Quando você consulta um médico, ele avaliará sua pressão arterial, idade, peso, colesterol e diabetes”, observa Freeman. “Raramente o médico dirá: ‘Vou medir o nível de cobre, manganês ou cádmio.’ Contudo, isso pode se tornar uma prática comum no futuro.”

Entretanto, embora o estudo indique associações, ele não estabelece causalidade, conforme salientam Al-Kindi, Nasir e Rajagopalan em comentário editorial. “Os mecanismos pelos quais esses metais podem contribuir para a progressão da aterosclerose ainda precisam ser esclarecidos”, afirmam. No entanto, os autores do estudo sustentam que a presença de metais pesados pode promover o endurecimento das artérias, em parte, por meio da intensificação da inflamação.

Limitações na Medição dos Níveis de Metais na Urina

O estudo apresenta algumas limitações significativas. As avaliações dos metais urinários foram majoritariamente realizadas apenas no início da pesquisa, o que pode não refletir adequadamente os padrões de exposição a longo prazo, conforme apontam Al-Kindi, Nasir e Rajagopalan.

Entretanto, o cádmio urinário é frequentemente considerado um indicador robusto de exposição a longo prazo, apresentando baixa variabilidade ao longo do tempo, segundo os autores.

“A equipe do estudo obteve financiamento para medir metais urinários entre todos os participantes no início e entre 10% deles na quinta visita do Estudo Multiétnico de Aterosclerose,” esclarece McGraw por e-mail. As descobertas principais são fundamentadas em amostras de urina coletadas apenas no início, enquanto uma análise secundária desse pequeno subconjunto revelou resultados consistentes, embora estatisticamente insignificantes.

“Infelizmente, a biomonitorização da exposição é dispendiosa e, atualmente, carecemos de financiamento para medir biomarcadores de exposição ao longo de uma década,” acrescenta McGraw. A coleta das amostras de urina demandou o envio congelado em gelo seco para um biobanco e um laboratório em Columbia, além de processos de preparação e medição realizados em dias distintos para assegurar a precisão.

“A equipe solicitou financiamento adicional para pesquisa, visando medir os níveis de metais ao longo do período de dez anos,” complementa McGraw. “Entretanto, esse processo pode levar anos, mesmo que a solicitação de financiamento seja bem-sucedida.”

 

Reduzindo a Exposição a Metais Pesados

O estudo ressalta a urgência de uma intervenção em saúde pública abrangente, afirmam Al-Kindi, Nasir e Rajagopalan. Isso inclui a diminuição dos “limites aceitáveis de metais no ar e na água, além do fortalecimento da fiscalização para mitigar a poluição por metais, especialmente em comunidades que enfrentam exposições desproporcionais.” Eles acrescentam que “medidas de saúde pública que diminuíram a exposição a metais estão associadas à redução da mortalidade por doenças cardiovasculares.”

Além das exposições oriundas do ar e da água potável, a contaminação generalizada por cádmio, tungstênio, urânio, cobalto, cobre e zinco decorre de práticas agrícolas e industriais, como o uso de fertilizantes, a fabricação de baterias, a extração de petróleo, a mineração e a geração de energia nuclear, conforme indicado pelo estudo.

Reconhecendo essas fontes, algumas das quais são determinantes conhecidos de doenças cardiovasculares, Freeman levanta uma questão crucial: “São os metais (potencialmente responsáveis pelo problema), ou os produtos em que os metais estão presentes?” O especialista sugere que pode haver uma combinação de fatores, dificultando a separação das causas.

As ações mais cruciais para mitigar a exposição a metais devem ser implementadas pelos formuladores de políticas; entretanto, existem algumas estratégias que você pode adotar, conforme sugere McGraw. Isso inclui cessar o uso de tabaco e vape, testar a água potável e utilizar filtros, se necessário.

Adotar um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada e a prática regular de exercícios, pode contribuir para limitar a exposição ou atenuar os possíveis efeitos nocivos dos metais, segundo especialistas.

Além disso, a literatura apresenta resultados mistos sobre a eficácia da terapia de quelação, que visa remover certos metais do organismo, em relação a doenças cardíacas e outras condições cardiovasculares, conforme observam Freeman e McGraw.

Caso sua atividade laboral envolva a exposição a metais, “o uso de equipamento de proteção pessoal adequado é imprescindível,” enfatiza Freeman. Esse equipamento pode incluir máscaras, vestimentas específicas e óculos de proteção, garantindo a segurança da pele e dos olhos.

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