Setor Agropecuário dos EUA Pede Isenção de Trabalhadores na Política de Deportação
AGRICULTURAPOLÍTICA

Setor Agropecuário dos EUA Pede Isenção de Trabalhadores na Política de Deportação

Medida Poderia Comprometer a Rede de Suprimentos Alimentares, Intensamente Dependente de Imigrantes Irregulares

 

Diversos agrupamentos vinculados ao setor agropecuário dos Estados Unidos estão pleiteando que o presidente eleito, Donald Trump, isente sua esfera de atuação da promessa de deportações em massa, um movimento que, se concretizado, pode abalar significativamente a cadeia de suprimentos alimentares do país, a qual depende sobremaneira de imigrantes que se encontram em situação irregular no território norte-americano.

Até o momento, as autoridades incumbidas da transição de governo de Trump não se comprometeram com qualquer tipo de isenção, conforme revelado em entrevistas com representantes de grupos de agricultores, trabalhadores do setor e o novo “czar da fronteira” de Trump, Tom Homan.

Estima-se que cerca de metade dos aproximadamente 2 milhões de trabalhadores rurais dos Estados Unidos não possuam status legal, segundo dados dos departamentos de Trabalho e Agricultura, sendo essa uma realidade igualmente compartilhada por muitos trabalhadores dos setores de laticínios e frigoríficos.

Trump, alinhado com a corrente republicana, reiterou durante sua campanha para reconquistar a presidência o compromisso de deportar milhões de imigrantes em situação ilegal nos Estados Unidos, uma missão que, embora de alcance estratégico para sua plataforma política, é vista por críticos como uma empreitada logisticamente complexa, que poderia resultar na separação de famílias e causar impactos nocivos ao tecido empresarial do país.

Por sua parte, Homan afirmou que a fiscalização imigratória se concentrará prioritariamente sobre indivíduos com histórico criminoso e aqueles que já possuem ordens definitivas de deportação, porém, frisou que nenhum imigrante em situação irregular nos Estados Unidos será eximido das penalidades previstas.

Homan declarou à Fox News, em 11 de novembro, que a fiscalização direcionada a empresas “seria inevitável”, embora tenha se abstido de comentar se o setor agrícola estaria no alvo dessa medida.

“Há muito a ser feito”, afirmou Homan em uma entrevista telefônica realizada neste mês.

A remoção em massa de trabalhadores do setor agrícola representaria um verdadeiro choque para a cadeia de suprimentos alimentares, resultando, inevitavelmente, em um aumento nos preços dos produtos alimentícios ao consumidor, conforme alerta David Ortega, professor de economia e política alimentar da Michigan State University.

“Esses trabalhadores desempenham funções vitais que muitos nativos americanos não estão dispostos ou capacitados a assumir”, observou Ortega.

Os grupos agropecuários e seus aliados republicanos manifestam-se otimistas com o foco explícito do novo governo na criminalidade, uma postura que, segundo eles, ressoa com as suas próprias expectativas.

Dave Puglia, presidente e CEO da Western Growers, entidade que representa os produtores agrícolas, declarou que o grupo apoia essa abordagem e expressou sua apreensão quanto aos efeitos adversos que um plano de deportação direcionado aos trabalhadores agrícolas poderia acarretar ao setor.

A porta-voz da transição de Trump, Karoline Leavitt, não abordou diretamente as preocupações dos agricultores em sua declaração à Reuters.

“O povo americano reelegeu o presidente Trump com uma margem substancial, conferindo-lhe um mandato inequívoco para concretizar as promessas de sua campanha, como a deportação de migrantes criminosos e a restauração da nossa grandeza econômica”, afirmou Leavitt. “Ele cumprirá o que foi prometido.”

No último sábado, Trump anunciou a nomeação de Brooke Rollins, que presidiu o Conselho de Política Doméstica da Casa Branca durante seu primeiro mandato, para o cargo de secretária de Agricultura.

Os setores agrícolas e afins desempenharam um papel crucial na economia dos Estados Unidos, com uma contribuição de US$ 1,5 trilhão ao produto interno bruto do país, equivalente a 5,6% do total, em 2023, conforme dados do Departamento de Agricultura.

Durante seu primeiro governo, Trump assegurou ao setor agrícola que seus esforços de deportação não teriam como alvo os trabalhadores do setor alimentício. Contudo, a administração já realizou operações em locais de trabalho agrícolas, incluindo fábricas de processamento de aves no Mississippi e instalações de processamento de alimentos em Nebraska, levantando preocupações sobre as futuras implicações para a força de trabalho imigrante.

 

“Precisamos da Certeza”

Os produtores rurais possuem uma alternativa legal para a contratação de mão de obra por meio do programa de visto H-2A, que possibilita aos empregadores a admissão de um número ilimitado de trabalhadores sazonais, desde que comprovem a insuficiência de trabalhadores americanos dispostos, qualificados e disponíveis para a função.

Ao longo dos anos, o programa experimentou um crescimento substancial, com 378.000 posições H-2A certificadas pelo Departamento do Trabalho em 2023, um aumento de três vezes em relação a 2014, conforme dados da agência.

Entretanto, esse número representa apenas cerca de 20% dos trabalhadores agrícolas do país, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Muitos fazendeiros relatam que os custos associados aos requisitos salariais e de moradia do visto são elevados demais para serem sustentáveis. Além disso, outros enfrentam demandas de mão de obra contínuas ao longo do ano, o que torna os vistos sazonais inadequados para suas necessidades.

Tanto agricultores quanto trabalhadores se beneficiariam da expansão dos caminhos legais para a mão de obra agrícola, conforme declarado por John Walt Boatright, diretor de assuntos governamentais da American Farm Bureau Federation, um influente grupo de lobby do setor.

“Precisamos da certeza, confiabilidade e acessibilidade de um programa de força de trabalho, bem como de iniciativas que nos permitam continuar a garantir a entrega de alimentos da fazenda à mesa”, afirmou John Hollay, diretor de relações governamentais da International Fresh Produce Association, que representa produtores agrícolas.

Durante décadas, entidades representativas de fazendeiros e trabalhadores têm se empenhado na aprovação de uma reforma imigratória que possibilitasse a permanência de um número maior de trabalhadores agrícolas nos Estados Unidos. Contudo, até o momento, essa legislação tem falhado em obter a necessária aprovação.

O risco de execução de medidas contra as fazendas, no entanto, é considerado baixo devido à indispensabilidade dos trabalhadores para o setor, conforme afirmado por Leon Fresco, advogado de imigração da renomada firma Holland & Knight.

“Existem interesses comerciais substanciais que, evidentemente, demandam e necessitam dessa força de trabalho agrícola”, pontuou Fresco.

Entretanto, para os trabalhadores rurais, o temor de represálias e ações de fiscalização imigratória pode gerar um estresse crônico, conforme observou Mary Jo Dudley, diretora do Cornell Farmworker Program, uma iniciativa que capacita trabalhadores para que conheçam seus direitos ao se depararem com autoridades de imigração.

Caso haja, novamente, operações de fiscalização em frigoríficos, a execução das políticas imigratórias deverá adotar medidas cuidadosas para garantir que trabalhadores legalmente presentes no país não sejam detidos erroneamente, afirmou Marc Perrone, presidente internacional do United Food and Commercial Workers, sindicato que representa uma parcela dos trabalhadores de frigoríficos.

Edgar Franks, ex-trabalhador rural e atual diretor político da Familias Unidas por la Justicia, sindicato de trabalhadores no estado de Washington, observou que o grupo tem testemunhado um renascimento no engajamento dos trabalhadores em relação à organização sindical.

“A ansiedade e o medo são palpáveis. No entanto, se estivermos unidos, teremos uma chance substancialmente maior de resistir e lutar”, declarou Franks, transmitindo uma mensagem de esperança e união diante das adversidades.

Qual Sua Reação?

Alegre
0
Feliz
0
Amando
0
Normal
0
Triste
0

You may also like

More in:AGRICULTURA

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *